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PARA TERCEIRÃO – PLATÃO – MATER DEI

                  FOLHA DE LONDRINA – quinta-feira – 20 de abril de 2017

                     Mariana TokarniaAgência Brasil  /   Celso FelizardoReportagem Local

                  UM EM CADA DEZ ESTUDANTES É VÍTIMA FREQUENTE DE BULLYING

Levantamento mostra, no entanto, que os brasileiros estão acima da média no quesito satisfação com a vida

           

                 Brasília – No Brasil, aproximadamente um em cada dez estudantes é vítima frequente de bullying nas escolas. São adolescentes que sofrem agressões físicas ou psicológicas, que são alvo de piadas e boatos maldosos, excluídos propositalmente pelos colegas, que não são chamados para festas ou reuniões. O dado faz parte do terceiro volume do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa) 2015, dedicado ao bem-estar dos estudantes.

                O relatório é baseado na resposta de adolescentes de 15 anos que participaram da avaliação. No Brasil, 17,5% disseram sofrer alguma das formas de bullying “algumas vezes por mês”; 7,8% disseram ser excluídos pelos colegas; 9,3%, ser alvo de piadas; 4,1%, serem ameaçados; 3,2%, empurrados e agredidos fisicamente. Outros 5,3% disseram que os colegas frequentemente pegam e destroem as coisas deles e 7,9% são alvo de rumores maldosos. Com base nos relatos dos estudantes, 9% foram classificados no estudo como vítimas frequentes de bullying e estão no topo do indicador de agressões e mais expostos a essa situação.

                A publicação faz parte das divulgações do último Pisa, de 2015, avaliação aplicada pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Participaram dessa edição 540 mil estudantes de 15 anos que, por amostragem, representam 29 milhões de alunos de 72 países. São 35 países-membros da OCDE e 37 economias parceiras, entre elas o Brasil.

                Em comparação com os demais países avaliados, o Brasil aparece com um dos menores “índices de exposição ao bullying”. Em um ranking de 53 países com os dados disponíveis, o Brasil está em 43º. Em média, nos países da OCDE, 18,7% dos estudantes relataram ser vítimas de algum tipo de bullying mais de uma vez por mês e 8,9% foram classificados como vítimas frequentes.

                “O bullying tem sérias consequências tanto para o agressor quanto para a vítima. Tanto aqueles que praticam o bullying quanto as vítimas são mais propensos a faltar às aulas, abandonar os estudos e ter piores desempenhos acadêmicos que aqueles que não têm relações conflituosas com os colegas”, diz o estudo, que acrescenta que nesses adolescentes estão também mais presentes sintomas de depressão, ansiedade, baixa autoestima e perda de interesse por qualquer atividade.

                O levantamento mostra que os estudantes brasileiros estão acima da média no quesito satisfação com a vida: 44,6% dizem que estão muito satisfeitos, enquanto a média dos países da OCDE é 34,1%. Na outra ponta, tanto no Brasil quanto na média dos países da OCDE, 11,8% dizem que não estão satisfeitos com a vida. No Brasil, 76,1% sentem que pertencem à escola. Entre os países da OCDE, 73% dos adolescentes dizem ter esse sentimento de pertencimento.

                Quase todos os estudantes brasileiros (96,7%) querem ser escolhidos para as melhores oportunidades disponíveis quando graduarem e 63,9% querem estar entre os melhores estudantes da classe. Entre os países da OCDE, esses percentuais são, respectivamente, 92,7% e 59,2%.

                O Brasil, no entanto, aparece quase no topo entre os países com estudantes mais ansiosos – 80,8% ficam muito ansiosos mesmo quando estão bem preparados para provas. A média da OCDE é 55,5%. O País é superado apenas pela Costa Rica, onde 81,2% dos estudantes relataram ansiedade nesses casos. Mais da metade dos brasileiros, 56%, disseram que ficam tensos ao estudar. A média da OCDE é 36,6%. “Esses resultados sugerem a necessidade de relações mais fortes entre escolas e pais para que os adolescentes tenham o apoio de que necessitam, acadêmica e psicologicamente. Essa aproximação poderia contribuir muito para o bem-estar de todos os alunos”, diz o relatório.

                Aplicado pela OCDE, o Pisa testa os conhecimentos de matemática, leitura e ciências de estudantes de 15 anos de idade. Em 2015, o foco foi em ciências, que concentrou o maior número de questões da avaliação.

                SEED

                Por meio de nota, a Secretaria de Estado da Educação (Seed) informou que promove políticas públicas em defesa e garantia dos direitos de crianças e adolescentes, inclusive relacionadas à prevenção e enfrentamento às violências no âmbito escolar. No Paraná, foi instituída a lei nº 17. 335, de 10 de outubro de 2012, que traz o programa de combate ao bullying nas escolas públicas e privadas do Estado. Ainda conforme a nota, entre as ações realizadas destacam-se a formação continuada dos profissionais da educação em que são abordados os principais aspectos das violências, além do trabalho em rede com outras instituições.

Mariana Tokarnia

                                                      REPRESSÃO NÃO É A MELHOR SAÍDA

                O psicólogo Luciano Bugalski, membro da Comissão de Psicologia Clínica do Conselho Regional de Psicologia do Paraná, avalia que a repressão contra o agressor não é a solução mais indicada no enfrentamento ao bullying. “O adolescente vive um momento de contestação. Ele não se enxerga como criança, nem como adulto e procura a autoafirmação. Para isso, muitos vezes comete o bullying”, analisa.

                Bugalski ressalta que a repressão pode ter o efeito contrário e estimular o jovem a desenvolver um perfil ainda mais agressivo. “O adolescente tem pouco repertório de vida e não sabe lidar com determinadas situações. O que a escola e a família devem fazer é valorizar o que há de positivo e estimular a criação dessa bagagem”, orienta.

                De acordo com o levantamento do Pisa, pais e professores têm papel importante no bem-estar dos estudantes. Estudantes que têm pais interessados nas atividades escolares são 2,5 vezes mais propensos a estar entre as notas mais altas da escola e 1,9 vezes a estar muito satisfeitos com a vida.

                Com o apoio dos pais e responsáveis, os estudantes também têm duas vezes menos chance de se sentir sozinhos na escola e são 3,4 vezes menos propensos a estar insatisfeitos com a vida. “A formação familiar que estimula valores como a empatia, que é a capacidade de se colocar no lugar do outro, e a compreensão são fundamentais. Ainda que o bullying não desapareça, ele pode ser amenizado”, argumenta o psicólogo.

                “Não há como se reagir ao bullying, pois a vítima é atingida em sua vulnerabilidade, um perfil que geralmente foge ao convencional, ao mais aceito pela sociedade. Por isso a importância da ajuda. Quem bate esquece, mas quem apanha não. E esses danos psicológicos podem ser profundos”, diz.

                A participação dos professores também é importante. Estudantes que recebem apoio e suporte dos professores em sala de aula são 1,9 vezes mais propensos a sentir que pertencem à escola do que aqueles que não têm esse apoio. Aqueles que percebem que os professores são injustos com eles têm 1,8 vezes mais chances de se sentir excluídos na escola. (Com Agência Brasil)

Celso Felizardo

                                                                      TAREFA ESPECIAL

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Lido o texto, analisado seu conteúdo, escreva uma carta  do leitor para ser publicada na Folha de Londrina. Dirija sua carta ao editor do jornal, expondo seu comentário sobre o assunto, com referência à matéria publicada. Faça um texto de pelo menos 20 linhas, assinando seu trabalho como LEITOR ou LEITORA. Além de aproveitar o conteúdo da matéria publicada na Folha de Londrina, você poderá acrescentar outras informações para sustentar sua tese. É importante que na sua carta exista  indignação diante do fato. Não se esqueça de dirigir-se ao editor. Atenção!

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Bullying é um termo da língua inglesa (bully = “valentão”) que se refere a todas as formas de atitudes agressivas, verbais ou físicas, intencionais e repetitivas, que ocorrem sem motivação evidente e são exercidas por um ou mais indivíduos, causando dor e angústia, com o objetivo de intimidar ou agredir outra pessoa sem ter a possibilidade ou capacidade de se defender, sendo realizadas dentro de uma relação desigual de forças ou poder.

O bullying se divide em duas categorias: a) bullying direto, que é a forma mais comum entre os agressores masculinos e b) bullying indireto, sendo essa a forma mais comum entre mulheres e crianças, tendo como característica o isolamento social da vítima. Em geral, a vítima teme o(a) agressor(a) em razão das ameaças ou mesmo a concretização da violência, física ou sexual, ou a perda dos meios de subsistência.

O bullying é um problema mundial, podendo ocorrer em praticamente qualquer contexto no qual as pessoas interajam, tais como escola, faculdade/universidade, família, mas pode ocorrer também no local de trabalho e entre vizinhos. Há uma tendência de as escolas não admitirem a ocorrência do bullying entre seus alunos; ou desconhecem o problema ou se negam a enfrentá-lo. Esse tipo de agressão geralmente ocorre em áreas onde a presença ou supervisão de pessoas adultas é mínima ou inexistente. Estão inclusos no bullying os apelidos pejorativos criados para humilhar os colegas.

As pessoas que testemunham o bullying, na grande maioria, alunos, convivem com a violência e se silenciam em razão de temerem se tornar as “próximas vítimas” do agressor. No espaço escolar, quando não ocorre uma efetiva intervenção contra o bullying, o ambiente fica contaminado e os alunos, sem exceção, são afetados negativamente, experimentando sentimentos de medo e ansiedade.

As crianças ou adolescentes que sofrem bullying podem se tornar adultos com sentimentos negativos e baixa autoestima. Tendem a adquirir sérios problemas de relacionamento, podendo, inclusive, contrair comportamento agressivo. Em casos extremos, a vítima poderá tentar ou cometer suicídio.

O(s) autor(es) das agressões geralmente são pessoas que têm pouca empatia, pertencentes à famílias desestruturadas, em que o relacionamento afetivo entre seus membros tende a ser escasso ou precário. Por outro lado, o alvo dos agressores geralmente são pessoas pouco sociáveis, com baixa capacidade de reação ou de fazer cessar os atos prejudiciais contra si e possuem forte sentimento de insegurança, o que os impede de solicitar ajuda.

No Brasil, uma pesquisa realizada em 2010 com alunos de escolas públicas e particulares revelou que as humilhações típicas do bullying são comuns em alunos da 5ª e 6ª séries. As três cidades brasileiras com maior incidência dessa prática são: Brasília, Belo Horizonte e Curitiba.

Os atos de bullying ferem princípios constitucionais – respeito à dignidade da pessoa humana – e ferem o Código Civil, que determina que todo ato ilícito que cause dano a outrem gera o dever de indenizar. O responsável pelo ato de bullying pode também ser enquadrado no Código de Defesa do Consumidor, tendo em vista que as escolas prestam serviço aos consumidores e são responsáveis por atos de bullying que ocorram dentro do estabelecimento de ensino/trabalho.

Orson Camargo – Colaborador Brasil Escola – Graduado em Sociologia e Política pela Escola de Sociologia e Política de São Paulo – FESPSP – Mestre em Sociologia pela Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP